A PON Isabela Bessa traz um novo relato para o Diário do Pratica. O navio no qual ela está embarcada, Maersk Asserter, acabou de sair do estaleiro e agora encontra-se fundeado na Bacia de Campos fazendo alguns testes. Em seu depoímento exclusivo para o Diário do Pratica, ela fala um pouco sobre as atividades no navio, Salvatagem e postura profissional. Sejam bem-vindos a bordo!


“Há alguns dias, meu navio saiu do estaleiro. No momento, estamos fundeados na Baía de Guanabara fazendo alguns testes.”


“Quando um barco sai do estaleiro, ele precisa fazer testes nos sistemas e equipamentos que foram trocados ou modificados, para assegurar que eles funcionam (e nos que não foram modificados, para assegurar que eles ainda funcionam). Então, nos últimos dias fizemos testes nos Stern Thrusters, Speed Tests, testes nos sistemas de rádio, testes nos guindastes e nos guinchos, entre outros. Também está sendo uma inspeção pelo Lloyd’s no navio, para manter a classe do barco. Essa inspeção é bem específica e detalhada, incluindo itens de segurança, salvatagem, operacionais, etc.

Ainda não pude ver a operação do navio em si, mas estou acompanhando os oficiais em suas atividades relativas à segurança e salvatagem, principalmente. Não posso falar por todos os barcos, nem por todas as empresas, mas aqui as inspeções são todas feitas na marca. Ontem, por exemplo, nós colocamos todos os equipamentos de fire fighting no lugar (alguns deles foram retirados dos postos no estaleiro, para evitar roubo das peças de cobre). Nós colocamos todas as tampas, esguichos e chaves nos hidrantes e nas caixas de mangueira, e engraxamos todas as tomadas. Hoje fizemos inspeção em todos os extintores de CO2 do barco e testamos os sensores de incêndio. Tudo isso é muito cansativo, porque os itens estão espalhados por toda a embarcação e precisam ser checados um a um. Só para dar uma noção, o navio é dividido em decks: o Upper Deck é no nível do convés, e a partir dele temos do A ao F (onde é o passadiço), ou seja, são 7 andares sem contar máquina (onde temos o Tween Deck e o Tank Top, abaixo do Upper Deck). Todos os dias subo e desço esses andares várias vezes… No começo ficava muito cansada, mas com o tempo nos acostumamos.

Outra coisa que aprendi a bordo (e que é muito importante) foi a ler os manuais. Tudo no barco tem manual (tudo mesmo, até a máquina de café). Nós brasileiros não temos o hábito de ler manual, mas os estrangeiros tem esse costume. É óbvio que alguns equipamentos eu estou conhecendo sem ler, mas já comecei a ler alguns. É muito importante conhecer o equipamento, saber como ele funciona. Às vezes ele tem funções que nem os outros tripulantes conhecem, porque não leram o manual. E, além disso, o aprendizado a bordo é bem diferente do que eu esperava. Não tem ninguém te chamando para aprender, à sua disposição. Temos que ter total iniciativa. Os outros tripulantes também tem suas atribuições e nem sempre dá para eles ficarem sentados explicando tudo. E, além disso, quando você vai tirar uma dúvida já tendo lido o manual, é bem mais simples e rápido para eles explicarem.

Também é muito importante ter uma postura profissional. Saber receber críticas, aceitar ordens… Os estrangeiros são bem diretos nas coisas que eles têm que falar, e nós não devemos nos sentir ofendidos quando algum deles falar “vai fazer isso” ou “você está fazendo isso errado”. É apenas o jeito deles de falar, não necessariamente um “esporro”. Eles podem ser rudes às vezes, mas temos que saber lidar com as diferenças culturais.

Infelizmente, ainda não tenho muito para contar porque o navio não navegou nem operou. Mas espero estar ajudando com essas coisas que podem parecer básicas, mas que eu não sabia antes de embarcar. No mais, aproveitem esse tempo de vocês em casa!”

PON Isabela Bessa

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O OfAl Caíque estudou na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante de 2012 a 2015, fazendo parte da Turma Caio Augusto Castro. No 1º ano, foi escritor do Jornal Pelicano, no 2º ano, Webmaster e no 3º ano, Presidente do Jornal Pelicano.