No quarto episódio da série sobre acidentes navais, o Jornal Pelicano mostra casos onde erros provocaram fatalidades e foram exemplo para toda a comunidade marítima, servindo de base para mudança em hábitos e comportamentos que geravam um risco para a tripulação de navios por todo o globo.

JALAKANYAKA
Boat Jalakanyaka
Jalakanyaka (Foto: Google Imagens)

Bandeira: Índia.

História: A embarcação de passeios turísticos de dois andares realizava viagens diárias no Lago Thekkady, em Kerala, costa sudoeste da Índia.

No dia 30 de Setembro de 2009 às 1700, apenas trinta minutos após a partida da embarcação, esta emborcou a sete quilômetros da costa.

O lago Thekkady fica dentro da Reserva de Tigres Periyar, e a suspeita principal da causa do acidente é que todos os passageiros tenham passado ao mesmo bordo para observar uma manada de bisões que surgia da floresta. Uma provável manobra errada do timoneiro do Jalakanyaka e um possível problema estrutural no navio – que fez sua primeira viagem 44 dias antes do acidente -, contribuíram para o emborcamento.

Algum tempo após o acidente, descobriu-se que a embarcação operava acima da capacidade máxima de 75 passageiros. Estima-se que havia entre doze e vinte passageiros excedentes naquela viagem.

Consequências: 45 turistas perderam as vidas. O timoneiro e um membro da tripulação foram presos menos de uma semana após o acidente, que afetou o turismo na região, chegando a ficar três meses sem serviços aquaviários. Foram implantadas medidas de segurança, como obrigatoriedade do uso de coletes salva vidas por todos embarcados, mas essas medidas acabaram negligenciadas com o passar do tempo.

MV DERBYSHIRE
mv-derbyshire
MV Derbyshire (Foto: Google Imagens)

Bandeira: Inglaterra.

História: O MV Derbyshire transportava minério, granel ou petróleo. Construído em 1976, foi um dos maiores cargueiros da época.

Em 9 de Setembro de 1980, ao sul do Japão, o navio entrou no tufão Orchid e perdeu toda a comunicação, tornando-se assim a maior embarcação a perder-se no mar até então.

A 370 quilômetros da ilha de Okinawa, no Japão, com tripulação máxima e próximo à carga máxima, o navio foi dominado por um tufão, nem ao menos conseguindo pedir socorro via rádio. Operações de busca só foram iniciadas seis dias depois do acidente e após seis semanas de buscas sem sucesso, foram encerradas.

A embarcação só foi encontrada em Junho de 1994 em buscas financiadas pelo governo inglês.

Em uma investigação formal realizada em 2000 – 20 anos após o naufrágio – onde mais de 135 mil fotos do naufragado Derbyshire foram analisadas, descobriu-se que uma falha nas tampas das escotilhas da proa comprometeram a estabilidade do navio, que foi inundado pelas fortes ondas da tempestade.

Consequências: Todas as 44 pessoas à bordo (42 tripulantes e duas de suas esposas) morreram no acidente, que serviu como base para melhorias nos regulamentos quanto à habitabilidade e exigências estruturais de cargueiros com 150 metros ou mais de comprimento.

SS ELINGAMITE
SS_Elingamite
SS Elingamite (Foto: Google Imagens)

Bandeira: Austrália.

História: Um navio de passageiros movido à vapor, com capacidade para 200 passageiros mais tripulação, construído em 1887.

O dia 9 de Novembro de 1902 amanheceu com uma densa neblina que fez com que a embarcação que estava 65 quilômetros ao norte da Nova Zelândia, transportando 136 passageiros, 58 tripulantes e 52 caixas de moedas de ouro para bancos neozelandeses, colidisse na Ilha West, uma das três ilhas do Arquipélago de Three Kings.

Consequências: Vinte minutos após a colisão o navio afundou, mas todos que estavam à bordo conseguiram escapar em botes e balsas salva vidas. Porém, um dos botes – com 45 pessoas – nunca foi encontrado.

O Capitão Ernest Atwood, comandante do Elingamite, foi preso vinte dias depois, julgado culpado por navegação negligente entre outras acusações.

Em 1911, o órgão australiano que regulava a navegação na região constatou que as cartas náuticas que continham o Arquipélago indicavam as ilhas a uma posição a mais de três quilômetros de distância de onde realmente estavam, e o capitão foi inocentado de todos os crimes.

Atualmente, o naufrágio da embarcação é visitado por mergulhadores atraídos por contos sobre o tesouro transportado pelo Elingamite.

HMS THUNDERER
HMS_Thunderer (1872)
HMS Thunderer (Fonte: Google Imagens)

Bandeira: Reino Unido/Grã-Bretanha.

História: Este era o navio da Marinha Real Britânica que, junto ao seu “irmão” HMS Devastation, eram considerados os maiores e mais poderosos navios de guerra do mundo.

Começou a ser utilizado em 1872, mas completou o trabalho de construção apenas em 1876.

Apenas alguns meses após o fim de sua construção, em 14 de Julho daquele mesmo ano, enquanto o navio fazia uma curta viagem (Porto de Portsmouth à Baía de Stokes) para testar a capacidade máxima de fogo de suas armas, uma de suas oito caldeiras em formato de caixa explodiu. Um medidor de pressão defeituoso não indicou alterações na pressão causadas por corrosão na tubulação, inutilizando, assim, as válvulas de segurança da caldeira.

Apesar de consideráveis danos, a embarcação retornou a operar e continuou a ser utilizada pela Marinha até ser vendida em 1909.

Consequências: A explosão matou 15 pessoas instantaneamente, inclusive o Capitão, que se encontrava na sala da caldeira no momento. O acidente feriu ainda outras 70 pessoas, das quais 30 vieram à óbito depois.
Esse acidente marcou o fim do uso das caldeiras em formato de caixa, que foram substituídas pelas caldeiras escocesas concebidas para uso marítimo, de formato cilíndrico.

DIX
Dix (steamboat)
DIX (Fonte: Google Imagens)

Bandeira: Estados Unidos.

História: Dix era uma barca de passageiros a vapor que geralmente fazia o trajeto Seattle-Alki Point no estado norte americano de Washington construída em 1904.

No dia 18 de Novembro de 1906, ela apoiava a embarcação Monticello quando, com então 77 passageiros a bordo, o Capitão Percy Lermond deixou o comando da embarcação com um dos membros de sua tripulação, Charles Dennison.

Lermond, por comandar uma embarcação de menor porte, era obrigado também a cumprir a tarefa de comissário de bordo e coletar a tarifa dos passageiros à bordo.

Porém, Dennison não era habilitado a pilotar aquela embarcação e inexplicavelmente acelerou Dix rumo ao Jeanie, um cargueiro carregado com minério de ferro dez vezes maior que o primeiro. Jeanie reverteu seus motores para tentar diminuir o impacto, mas o abalroamento aconteceu e a força foi suficientemente grande para fazer com que Dix saltasse sobre seu bombordo. A embarcação menor rapidamente se encheu de água e afundou 188 metros.
Consequências: Considerado um dos maiores acidentes marítimos de Washington, em 2011 foram encontrados destroços do Dix em Alki Point, Seattle. Os números da época são incertos quanto à quantidade de passageiros, mas acredita-se que cerca de 45 pessoas perderam a vida no acidente, sendo Dennison uma das vítimas.

O Capitão Lermond foi acusado de negligenciar o comando da embarcação a alguém incapaz e teve suas licenças revogadas, mas um ano depois recuperou seus direitos.