O Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, importante peça para a consolidação do Poder Marítimo Brasileiro, surgiu do Decreto 68.042, de 12 de janeiro de 1971. Em 2021, esta Organização Militar, verdadeira Universidade do Mar, completou 50 anos de excelentes serviços prestados em prol do desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo. Pensando nas comemorações dos 50 anos do CIAGA, o Jornal Pelicano preparou uma série de reportagens que objetivam mostrar as particularidades desse renomado Centro de Instrução.
Os 50 anos do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha
A história do CIAGA está intimamente ligada ao surgimento e a evolução do Ensino Profissional Marítimo. Já no início do século XIX, devido a abertura dos portos às nações amigas em 1808, houve um aumento da navegação comercial de longo curso, além da navegação de cabotagem, que já ocorria entre as capitanias hereditárias. Tal crescimento fez urgir a necessidade de um ensino que garantisse a segurança na navegação. Esse ensino começou da seguinte forma:
- Visando preencher tal lapso na Marinha Mercante, em 1808, aloja-se no Mosteiro de São Bento a Academia Real dos Guardas Marinhas;
- Oitenta e quatro anos depois é criada a Escola de Maquinistas do Pará em 13 de outubro de 1892, e aproximadamente um mês depois surge nela o curso de náutica, fazendo assim ser denominada Escola de Maquinistas e Pilotos do Pará;
- Em 1907, a Escola de Maquinistas e Pilotos do Pará recebe nova regulamentação, passando a se chamar Escola de Marinha Mercante do Pará;
- Em 1917, foi entregue ao Lloyd Brasileiro para servir como Navio-Escola dos Aspirantes a Piloto da Marinha Mercante, o então batizado Cruzador WENCESLAU BRAZ;
- Em 1939 é criada a Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro (EMMRJ) nas instalações do Lloyd Brasileiro;
- Anos depois, a EMMRJ é transferida para novas instalações na Avenida Brasil no ano de 1958;
- Finalmente no ano de 1971 extingue-se a EMMRJ e surge a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante que é incorporada ao Centro de Instrução Almirante Graça Aranha.
O CIAGA atualmente representa a origem do fogo que aquece a marinha mercante, trazendo a ela novos profissionais, mantendo os já pertencentes e evoluindo junto aos avanços que vem a surgir. Atualmente está preparado para ministrar mais de 100 cursos, seja de formação, aperfeiçoamento, atualização e outros para o pessoal das categorias profissionais da marinha mercante brasileira ou de países amigos. É dito como “a versão contemporânea da vila do infante, a nova Sagres do Atlântico Sul, de um Brasil ainda jovem, em busca do seu destino e vocação.”
A Alameda Alegrete
Desde a instalação da EMMRJ na Avenida Brasil, a Alameda Alegrete é berço da formação dos Oficiais da Marinha Mercante. Ela está situada entre os blocos X e W e é passagem para todas as atividades dos Alunos.
É na Alameda Alegrete, que, desde 1958, acontecem inúmeras solenidades escolares, formaturas e desfiles militares fazendo dela o coração da Escola. Ela foi, inclusive, palco para recepção do então Presidente Juscelino Kubtischek que acompanhou uma formatura no ano inaugural. Mudanças ocorreram nas imediações e na rotina dos alunos ao longo dos anos, todavia sua importância não diminuiu, pois é nela que os alunos da EFOMM sempre se reúnem para celebrar e receber instruções desde o período de adaptação até a declaração de praticantes.
Segundo o Contra-Almirante (RM1) Gilberto Cezar Lourenço, Comandante do CIAGA entre 2015 e 2017, “a Alameda sempre foi dos alunos. É ali que eles formam diariamente e é dali que eles sairão para o mar.” Ele enfatizou que no período em que foi Comandante, instituiu o Projeto CIAGA Verde, que visava a manutenção tanto da flora quanto da fauna do CIAGA. Segundo ele, havia forte participação por parte dos alunos bem como o auxílio de empresas terceirizadas além da Prefeitura do Rio de Janeiro. Além disso, o Projeto ainda contou com a participação voluntária de sua esposa, Sra Elisandra Lourenço, que contribuiu grandemente para o paisagismo da Alameda. Finalizou dizendo que “a Alameda nunca mudou. Desde que ela fora criada, sua estrutura permaneceu imutável. A Alameda é um ser perene! Enquanto existir EFOMM, existirá Alegrete.”
O Comandante Marcus Lisbôa, formado no CIAGA em 1983, destaca, ainda, as palavras ditas pelo Alte Waldemar José dos Santos na sua formatura: “Sejam profissionais disciplinados e disciplinadores. . Não permitam que contingências da vida os façam esquecer, que a preocupação maior é para com a sua pátria, orgulhem-se e honrem a nobre profissão que abraçaram, e principalmente, jamais esqueçam de sua querida Escola.”
Por último, o Comodoro José Menezes Filho falou da beleza da transição que marca o fim do período na escola e o início da vida no mar, passando pela Alameda Alegrete. “Quando ouço o famoso “Adeus minha Escola querida” as lágrimas correm espontaneamente. O último reunir dos alunos na Alameda, quando estão se preparando para a formatura, é realmente uma cena belíssima, impossível não se emocionar.”
O Navio Alegrete
Nessa reportagem especial sobre a Alameda Alegrete, não se pode deixar de falar da história do Navio que emprestou seu nome para batizar a Alameda principal do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha.
O navio mercante Alegrete tem origem em um estaleiro da Irlanda do Norte, tendo sido batizado originalmente de Salamanca.
No momento de eclosão da primeira guerra mundial, o navio se encontrava em um porto brasileiro na Paraíba. Sendo assim, a embarcação fora retida e confiscada pelo governo brasileiro em junho de 1917. Somente após tal ocorrido que, ainda no mesmo ano, o navio é rebatizado com o nome de Alegrete em homenagem a cidade do Rio Grande do Sul. E em 1926, passou para a propriedade e armação do Lloyd Brasileiro – Patrimônio Nacional.
O Alegrete foi de grande importância para a Marinha Mercante e para o Brasil. De modo mais amplo, serviu como palco da formação dos homens que compuseram a frota da época, além do transporte de cargas. Serviu como sede da Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro na qual, os alunos do Curso de Especialização em Náutica e Máquinas, em regime de internato, permaneciam embarcados durante o tempo de instrução.
Mesmo após seu afundamento em 1942 ocasionado pelos torpedos do submarino alemão U-156, perdura até os dias de hoje como não apenas um navio, mas também um ninho do qual emergiram homens e almas de aço forjadas.
Contemporaneamente, tal tradição se mantém na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante. Localizada no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, além de ser um local de referência da IMO (Organização Marítima Internacional) para a formação de Oficiais da Marinha Mercante para a região da América do Sul também homenageia a embarcação nomeando a sua rua principal com seu nome, Alameda Alegrete
Pela Alameda Alegrete, passaram os bravos homens e mulheres que com honra se desafiam a cada dia tripulando os navios. O nome do navio afundado pelo submarino alemão também se refere a um pequeno canteiro, onde se cultivam plantas. Por sua vez, na avenida mais importante do CIAGA, sonhos são cultivados, regados pelos estudos e adubados pelo Fogo Sagrado, o entusiasmo com que o Aluno se dedica à profissão do mar.
Para homenagear os 50 anos deste Centro de Instrução, o Jornal Pelicano preparou um vídeo que exibe parte da rotina dos alunos que passam pela Alameda Alegrete. Confira em:
Ficha Técnica:
Coordenação do Projeto: Al. Perini | Prospecção e seleção: Al. Paraizo |
Revisão: Al. Julia Zandomingo e Al. Pablo Nascimento | Vídeo – Coordenação/Filmagem: Al. Arthur Schmitt |
Texto: Al. Vinicius Brito e Al. Sofia | Vídeo – Edição: Al. Marvila |
Entrevistas: Al. Figueiró e Al. Julia Zandomingo | Agradecimentos: CIAGA, Alte Lourenço, Comte Aquino, Comodoro José Menezes Filho, Comte Marcus Lisbôa e Professor Marcus Vinicius. |
Arte: Al. Carneiro