Um exemplo de liderança, um oficial que formou um forte laço de amizade com todo o Corpo de Alunos, o Capitão-Tenente (CT) Fuzileiro Naval (FN) Rodrigo Souza recebeu inesperadamente mais cedo a ordem de transferência para outra unidade da Marinha do Brasil. Por isso, em homenagem a um grande homem que deixará saudades e um grande legado, o Jornal Pelicano fugiu um pouco da temática principal do nosso Por que EFOMM? e resolveu fazer essa Edição Especial.

E, como estamos abrindo uma exceção, vamos mudar também a pergunta característica desta série:

JORNAL PELICANO – CT FN Rodrigo Souza, o senhor nunca hesitou em dizer que se orgulha de ter participado da EFOMM nestes três anos em que esteve aqui, então, poderia dizer aos nossos leitores O que a EFOMM é para o senhor?

Quando estava no Haiti na minha segunda passagem por aquela missão, em 2013, surgiu a necessidade de indicar três CT (FN) para servirem na EN (Escola Naval), no CIAW (Centro de Instrução Almirante Wandenkolk) e no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA). Logo veio à minha cabeça a curiosidade que surgiu em 1998, quando me apresentei no CIAGA para embarcar no ônibus com destino à Adaptação do CN (Colégio Naval), em 1998. Naquela época, não fazia ideia do que o CIAGA representava para a MB (Marinha do Brasil) e nem me passava pela cabeça que no CIAGA se formavam os profissionais da MM (Marinha Mercante).

Em 2013, depois de alguns anos na MB e já tendo a noção de qual era a missão do CIAGA, a curiosidade aumentou ainda mais, já que o desafio seria ainda maior. A oportunidade se apresentou, mas essas movimentações na MB são bem pitorescas. Quando um Oficial sinaliza que quer ser movimentado, ele pode ser movimentado para qualquer lugar, até mesmo para algum lugar que não deseje.

Pois bem, sendo meu sonho servir em uma OM de Ensino desde que conheci o Paraninfo da minha Turma no CN, Vice-Almirante Cardoso Gomes, vi nessa ocasião perfeita a oportunidade para realizar mais este sonho. Entretanto, como já conhecia as missões da EN e CIAW e tendo a noção que não me enquadraria muito bem na maneira em como essas missões são conduzidas, decidi pelo CIAGA, o que provavelmente me levaria à EFOMM. Mas ainda sim não podia manifestar minha intenção, pois poderia ser enviado a qualquer uma das três OM. Por sorte ou por destino, fui enviado ao CIAGA.

“O desafio se multiplicou, porém me deu um ‘Norte’ que direcionou todos os meus esforços nesses quase dois anos e meio”.

Chegando ao CIAGA, foi confirmada minha ida à EFOMM para ser o Chefe do Núcleo de Formação de Oficiais da Reserva da Marinha (NFORM). Minha surpresa foi ainda maior, já que posso afirmar que mais de 95% dos Oficiais do CFN (Corpo de Fuzileiros Navais) não conhecem essa missão de formar os Oficiais da Reserva da MB. O desafio se multiplicou, porém me deu um “Norte” que direcionou todos os meus esforços nesses quase dois anos e meio.

A fama dos alunos da EFOMM não era muito boa em termos de hierarquia e disciplina. Sempre fui honesto com os alunos e não podia ser diferente ao admitir esta fama. Por outro lado, eu não tinha nenhum conhecimento da profissão de Oficial da Marinha Mercante. Então o que fiz foi procurar o que eu poderia acrescentar na formação desses jovens em termos profissionais e pessoais. Como tenho como convicção que essas duas formações, profissional e pessoal, andam intimamente ligadas, sei que se acrescentasse em uma, estaria acrescentando de alguma forma na outra.

“Foi mais do que gratificante ver que os alunos e alunas corresponderam aos meus inputs e entenderam minha filosofia de trabalho”

Foi então que direcionei meus esforços no sentido de transmitir bons valores para os jovens alunos da EFOMM, sobretudo o respeito à hierarquia e à disciplina, mas em primeiro lugar as virtudes da Lealdade e da Honra. Foi mais do que gratificante ver que os alunos e alunas corresponderam aos meus inputs e entenderam minha filosofia de trabalho. Na verdade, foi constrangedor ver que os alunos eram carentes de uma figura de Oficial que tentasse compreendê-los e encará-los como companheiros de trabalho. Não consigo entender qualquer postura diferente. Todo homem e mulher na linha de frente tem o mesmo valor! “O tiro que mata o Soldado, mata o Tenente!”

Como resultado final, posso afirmar que ultrapassei todas as minhas expectativas na realização do sonho de servir em uma OM de Ensino, contribuindo de alguma forma na formação do profissional e do caráter do ser humano. Aqui construí uma relação de companheirismo, amizade, desenvolvi um sentimento paternalista e fraterno também, pois não sou tão mais velho que alguns alunos. Conheci mais essa parte da MB e essa nobre missão de formar os profissionais do Mar e de possíveis companheiros nas linhas de frente quando a Pátria precisar.

(Foto: Montagem / Jornal Pelicano)
(Foto: Montagem / Jornal Pelicano)

E quando me perguntam o que a EFOMM é para mim, respondo que é um ser abstrato, um bem intangível. Não é o prédio. Não são as formaturas. Não é o Corpo de Alunos. É uma condição em que todos que fazemos ou fizemos parte, de um jeito ou de outro, ostentamos o orgulho em representar e defender os interesses da classe com todas as nossas energias. Representa o compromisso em engrandecer o nome dessa Instituição que forma excelentes profissionais e homens e mulheres de bem! Carrega a responsabilidade de manter a atual fama de profissionais de excelência e de caráter! Representa uma família onde uma hora você é o pai, em seguida outro irmão e por vezes um filho.

“Mas com toda a certeza foi a postura de todos os alunos que conheci que conquistou o coração e a mente desse Fuzileiro Naval…”

Mas com toda a certeza foi a postura de todos os alunos que conheci que conquistou o coração e a mente desse Fuzileiro Naval de Infantaria e Logística. Só tenho a agradecer a todos pela postura profissional, madura, disciplinada e comprometida, e que tenham compreendido que podem ser tudo isso, e sem perder a energia, a alegria e a positividade de seus vinte e poucos anos. Agradeço por me rejuvenescerem uns dez anos de idade!

Mea culpa, é muito difícil para eu definir a EFOMM, essa Escola que aprendi a amar, a que dediquei minhas energias, saúde e tempo disponível dentro e fora da OM. Como sempre digo, é algo intangível, só quem passou por aqui consegue sentir a EFOMM.

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Aluno do terceiro ano de Náutica, atualmente é o Vice-Presidente do Jornal Pelicano.