Quinta-feira (24/09): Simpósio e Recepção do Secretário-Geral da IMO
As delegações tiveram a manhã de quinta-feira livre até as 1130, quando os alunos deveriam estar concentrados novamente na sede da IMO para início das atividades do dia. Novamente, o almoço ocorreu no restaurante da Agência, reunindo, além das delegações, os palestrantes e convidados que participariam do evento subsequente.
Pontualmente às 1245, iniciou-se o Simpósio no Centro de Convenções, que trouxe o tema “O futuro do comércio marítimo precisa de pessoal: a educação e formação marítima global está em curso?” (“Shipping’s future needs people: is global maritime education and training on course?”, em tradução livre). Os participantes do evento incluíam, além das delegações de alunos, representantes de empresas de gestão de embarcações e tripulações, professores de Universidades de Ensino Profissional Marítimo, shipbrokers e diversos estudiosos da área. Integrantes das representações dos países membros da IMO também estiveram presentes na ocasião, dentre eles oficiais que atuam na RPB-IMO.
O Simpósio foi oficialmente aberto pelo Exmo. Sr. Secretário-Geral da IMO, Koji Sekimizu, que deu as boas-vindas aos participantes e ressaltou a importância da presença dos estudantes de diversos Centros de Formação ao redor do mundo, pois o tema discutido em 2015 têm implicações diretas na carreira dos futuros marítimos e na qualidade do trabalho desempenhado por esses profissionais.
“Oportunidades para as novas gerações na indústria marítima”
Estabeleceu-se três etapas, ou sessões, para as discussões levantadas pelo Simpósio. A Primeira parte do evento trouxe o tema “Oportunidades para as novas gerações na indústria marítima” (“Oportunities for the young generation in the maritime industry”, em tradução livre) e teve como moderador o Sr. Rajaish Bajpaee, da Bernhard Schulte Shipmanagement. Quatro palestrantes participaram dessa sessão, discutindo a captação de profissionais ao meio marítimo, as oportunidades de carreira em terra, a participação da mulher nas profissões marítimas e a educação para futuras gerações.
Para induzir jovens a ingressarem nas profissões marítimas, é necessário um amplo projeto de promoção, num esforço conjunto de empresas, educadores e órgãos responsáveis pelo Ensino Profissional Marítimo em cada país. Dividindo o processo em etapas, a primeira fase da ação de incentivo à carreira seria tomada através de medidas no âmbito do colegial, relacionadas à promoção da profissão do marítimo, destacando sua importância vital na economia e sociedade. A segunda fase se sucederia na própria Instituição de Ensino Profissional Marítimo, expandindo os esforços para aumentar a qualidade do material disponibilizado aos alunos, beneficiar a aprendizagem e inovar os métodos de ensino oferecidos. A terceira fase do processo compreenderia o ingresso no mercado de trabalho, prevendo-se que as empresas deveriam fornecer aos marítimos maneiras de desenvolver suas habilidades e alcançar seus objetivos. Esse esforço conjunto, de medidas cuja abrangência extrapola os simples métodos aplicados em sala de aula, seria fundamental para favorecer a escolha pela profissão marítima.
A primeira palestrante, Prof.ª Jingjing Xu, da Plymouth University, falou sobre “Maneiras e meios de atrair jovens para profissões marítimas” (“Ways and means to attract young people to maritime professions”, em tradução livre). Em seu discurso, o palestrante apontou fatores que podem afetar a escolha da carreira no mar. Aspectos que favorecem essa opção são o desejo de navegar e desbravar como experiências desafiadoras, a oportunidade de viajar e conhecer o mundo, bem como a sensação de liberdade e desprendimento; aspectos que devem ser rejeitados, por provocar o desfavorecimento da escolha pela carreira no mar, é o tratamento injusto de marítimos (salários incompatíveis, falta de conforto a bordo). A Prof.ª Jingjing Xu ressaltou ainda aspectos característicos da profissão que atuam como facilitadores da opção pela carreira como marítimo, dentre eles o pagamento dos profissionais a bordo, um plano de carreira duradouro e até mesmo o acesso à internet, surpreendentemente indicado como um dos atrativo do trabalho. “Pobres recursos de acesso à internet a bordo é o maior desincentivo aos jovens para assumirem a carreira no mar”, afirmou a professora.
Nesse sentido, a queniana Fatma Farukh, em meio aos 32 estudantes participantes, dentre os quais estávamos, fez um apelo em nome de seu país pela aquisição de navios-escolas que possibilitem um aperfeiçoamento prático dos profissionais durante seu período de formação. Esses navios apresentam o revés de um alto custo de gerenciamento e manutenção, sem que haja retorno de capital em forma de lucro, o que os torna economicamente insustentáveis. Fatma pediu o incentivo ao financiamento de navios-escola, pois eles são a chave para que a formação não seja subaproveitada devido à falta de experiência dos marítimos recém-formados.
Ainda na primeira parte do Simpósio, A Sr.ª Maria Dixon, da ISM Shipping Solutions, discursou a respeito da “Integração da mulher no setor marítimo” (“Integration of women in the maritime sector”, em tradução livre). A Sra. Dixon apontou o exemplo de mulheres como a argentina Ana Luisa Ortiz, conhecida por marcar o ingresso das mulheres na Marinha Mercante de seu país, e Kate McCue, primeira americana a tornar-se comandante de um navio cruzeiro. Marítimas como Ortiz e McCue são uma inspiração para futuras gerações de mulheres, que procuram a realização em profissões desafiadoras, onde a participação feminina ainda é reduzida diante o tradicionalismo masculino. A motivação e a informação foram apontadas, na palestra de Dixon, como fatores essenciais à integração da mulher nesses setores.
“Carreira marítima como profissão”
Após um breve intervalo, os palestrantes da primeira fase deram lugar aos oradores da segunda parte do Simpósio, intitulada “Carreira marítima como profissão” (“Seafaring as a profession”, em tradução livre). Três palestrantes deram voz às discussões, tratando sobre o reconhecimento e engrandecimento da imagem do marítimo, o papel do marítimo para a economia global e oportunidades de crescimento na carreira disponíveis na indústria. A sessão foi mediada pelo Capitão Ian McNaught, da Trinity House.
Com relação ao tratamento da carreira marítima como profissão, foram discutidas formas de recrutamento e retenção de profissionais no setor marítimo, de maneira a evitar a evasão de pessoal, causada por fatores diversos. Gráficos apontaram que apenas 10% dos marítimos passam mais de 30 anos na profissão, período suficiente para experienciar todas as faces da carreira e da hierarquia profissional. Uma boa parte dos marítimos, 25%, passa de 11 a 15 anos no serviço. Procurando meios de reduzir a taxa de evasão, os palestrantes chamaram a atenção para um dilema da indústria marítima: arqueação versus conforto a bordo. A tecnologia é um grande aliado no sentido de facilitar a obtenção de conforto aos operadores. É importante relembrar também que as condições de trabalho adequadas, incluindo períodos suficientes de descanso a fim de evitar os efeitos da fadiga, são indispensáveis à garantia de segurança no transporte marítimo.
A profissão marítima é a praça de máquinas da economia mundial
Branko Berlan, da International Transport Worker’s Federation, tratou da “Contribuição e papel dos marítimos para a economia global” (“Contribution and role of seafarers to the global economy”, em tradução livre), ressaltando o participação fundamental do profissional do mar na sustentabilidade do comércio marítimo, responsável pela maior parte das transações internacionais de mercadorias e bens. “A profissão marítima é a praça de máquinas da economia mundial”, afirmou Berlan.
Quanto às oportunidades de crescimento na carreira, foi apontado que a liderança seria a chave para o sucesso profissional e aumento da qualidade de gestão no setor marítimo. Porém, deve-se levar em consideração a problemática de que os marítimos alcançam posições de gestão devido ao tempo em serviço, e não necessariamente às habilidades que apresentam. A identificação de líderes é necessária ao aprimoramento da indústria marítima em seus mais altos níveis, com reflexões que se percebem em todos os ramos administrativos da atividade.
Ao final da segunda parte do Simpósio, os presentes foram conduzidos ao salão para que a Trinity House pudesse fazer a entrega de um presente à IMO. A enorme estrutura, revelada pelo Secretário-Geral, juntamente com Ian McNaught, era uma lente de farol, que operou por 99 anos desde sua instalação, em 1914.
“Desenvolvendo as habilidades do marítimo através da qualidade da educação e formação marítima”
A terceira e última parte do Simpósio, cujo tema foi “Desenvolvendo as habilidades dos marítimos através da qualidade da educação e formação marítima” (“Developing seafarer skills throuhg quality maritime education and training”, em tradução livre), foi mediada pelo Capitão Kuba Szymanski, da InterManager. Novamente, os oradores da fase anterior deram lugar aos três novos palestrantes que tratariam sobre os artifícios das empresas para aumentar a competência dos profissionais, o robusto monitoramento da educação marítima e as estratégias para o desenvolvimento e expansão da educação e formação marítima.
O Sr. Pradeep Chawla, do Anglo-Eastern Group, trouxe a seguinte questão como tema de seu discurso: “Estratégias da empresa podem aumentar a competência?” (“Can company strategies enhance competence?”, em tradução livre). Através de uma abordagem direta, O Capitão Chawla expôs a política de sua empresa, selecionando e treinando adequadamente seus empregados desde a formação básica como profissional marítimo. Segundo ele, um dos aspectos mais importantes da política da empresa é a conformidade com padrões estritos de recrutamento. Tais exigências, bem como o posterior preparo dos trabalhadores nos centros de treinamento da companhia, a observação das normas de segurança e dos procedimentos padrão para realização de determinadas operações a bordo, foram determinantes, de acordo com Pradeep, para os expressivos indicadores de qualidade alcançados por sua companhia. Essa qualidade reverteu-se no lucro obtido pelo grupo, que permanece em uma crescente desde a adoção das estratégias descritas.
Após as três sessões, o Secretário-Geral retomou a palavra e fez as conclusões finais do evento. Sekimizu reiterou a necessidade de qualidade na formação profissional como alicerce da indústria de transporte marítimo, prezando pela segurança. Agradecendo a presença de todos os convidados em nome da IMO, Sekimizu convocou os presentes novamente ao salão para início da Recepção, que marcou o encerramento das atividades programadas pela Organização em comemoração ao Dia Marítimo Mundial.