Antes de tudo, uma observação: a dificuldade de convencer o dito aluno acima citado a fazer uma matéria sobre sua trajetória de vida para este Jornal foi de tamanha magnitude que este humilde autor poderia se autoproclamar Hércules a partir daí. Por isso que, desde agora, aviso que o modelo deste artigo será um pouco diferente dos “Por que EFOMM?” anteriores, mais próximo de uma entrevista do que um relato do aluno em destaque.

Para todos que estudam nesta escola há pelo menos mais de uma maneira de ver Rodrigo Castro. Para alguns, é apenas o aluno N-23056 deste ano de 2015. Para a minha Turma 2014, foi o nosso “01”, o candidato melhor ranqueado no concurso de admissão em 2013. Para mim em particular, além dos citados anteriormente, Rodrigo foi o líder da minha turma de adaptação, Turma Alpha, e “meu xerife de turma”, B-11.1 e B-12.1, durante todo o ano passado.

Com toda a certeza não posso dizer que conheço o “01” (como ainda eu e muitos outros o chamam) mais do que qualquer um, mas de nossas corriqueiras conversas nesse quase um ano e meio de convívio, afirmo com veemência que sempre tive vontade de expor a sua história.  Se pudesse falar diretamente por aqui com Rodrigo, diria sem nenhum pudor que, a sua trajetória deveria ter um poder de alcance a multidão muito maior que o dessa publicação, pois ela moldou um expoente de pessoa que eu, entre poucos, tive a honra de conhecer. E foi por isso que o humilde autor insistiu em lutar contra esta Quimera: para que mais gente pudesse conhecer um pouco de Rodrigo Santana de Castro.

Antes do meu “01” se tornar “01” ele prestou concurso da EFOMM cinco vezes! (OK Rodrigo, a primeira vez não conta). Sua primeira tentativa foi quando ainda estava no ultimo ano do Ensino Médio. “Despreparado. Não sabia nada, então não passei em nada”. Um amigo seu, estudante do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), e cujo pai era formado na Escola Naval (EN), acabara de ser aprovada na escola de formação de oficiais mercantes. Em suas conversas, discutiam o quanto é promissor o futuro da Marinha Mercante brasileira, e por isso, Rodrigo enveredou por este caminho, optando por tentar o concurso mais uma vez.

Com a ajuda financeira de seu pai, estudou por dois anos no curso do recém-falecido Professor Roquette, prestigiado professor e engenheiro do Instituto Militar de Engenharia (IME). Na segunda tentativa não passou em nada e na terceira terminou como sétimo dos reservas. “Na terceira vez eu só não passei por causa do inglês, meu calcanhar de Aquiles até hoje, mas eu teimei e continuo teimando.” Rodrigo acredita que a disciplina dos estudos e o foco no seu objetivo foram providenciais para a sua aprovação e para o ano em que liderou os 230 alunos da Turma 14.

No quarto ano, com fôlego renovado e aproximando-se cada vez mais do sonho antes tão longe, no seu caminho havia uma pedra:

Meu pai não tinha mais dinheiro para pagar o curso. Então eu comecei a ajuda-lo no trabalho na feira. Entrei em um outro curso, mais barato, mas também muito bom chamado SEI.

No quarto ano, Rodrigo conseguiu passar da primeira etapa. Mas não do exame físico. “Eu estava muito nervoso, por todo aquele tempo tentando estar ali, por ter terminado com a minha namorada, além de que corrida nunca foi o meu forte”. Neste mesmo ano, passou para a Escola Naval, onde depois da derrota na EFOMM, tentou percorrer seu desejo de entrar para a Marinha. Porem, viu que não era aquilo que queria, e saiu ao final da primeira semana de adaptação.

Enquanto visitava seus amigos no SEI, encontrou o diretor do curso e lhe explicou a situação. ”Eu já estava pensando em entrar em alguma universidade ou algo do tipo, até o diretor me oferecer uma bolsa de 100%”. Um voto de confiança, a única chance que precisava. O ano de 2013 foi o ano de Rodrigo Castro: aprovado na AFA, segundo lugar na EN, primeiro na EEAr e, finalmente, primeiro lugar na EFOMM. “Eu não acreditei”.

Essa foi a trajetória do meu “01” até a EFOMM. “Mas nós não podemos parar de sonhar. Pretendo alcançar Capitão de Longo Curso e, somente quando não conseguir mais navegar essa imensidão azul, gostaria de dar aulas de matemática”. Matemática acabou virando um hobby. Depois de tantos anos estudando, não conseguiu largar. Rodrigo estuda a matéria por si só, e ainda da aula no SEA (Sistema de Ensino Assistencialista), um curso preparatório comunitário focado em concursos militares que tem como professores alguns dos alunos da EFOMM.

Rodrigo Castro, através do Jornal Pelicano, gostaria de agradecer por estar por perto. Sua trajetória o amadureceu como pessoa, e o tornou em um exemplo de dedicação. Muitos aqui dentro falam da ajuda que você prestou para poder fazer parte da nossa turma. Muitos ainda irão falar quando incorporarem a EN, EFOMM ou AFA. Talvez você não tivesse alcançado isso na primeira tentativa, ou talvez tivesse. Ao menos da parte do humilde autor, é uma privilégio estar no mesmo barco que você.

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Praticante Oficial de Náutica, foi coordenador geral do Jornal Pelicano no ano de 2016.