[dropcap type=”2″]V[/dropcap]ou começar pelo meu primeiro pré-embarque. Fui chamada pela OSM uma semana antes de embarcar. Terminei os exames de admissão (ASO) em três dias, assinei o contrato com a empresa e já comecei a me preparar para o embarque.
Aquela correria de fazer mala, 500 listas pra ver se não estava esquecendo nada – por acaso esqueci minha “nécessaire” de medicamentos, mas não foi necessário, porque há enfermaria a bordo – tentei encontrar todos os amigos e familiares, aproveitar o máximo… Até que o grande dia chegou!
Embarquei em 25 de junho, no UOS Navigator, um AHTS da empresa alemã Hartmann, gerenciado, também, na época, pela OSM.

Lembro que, na noite anterior, nem consegui dormir de tanta ansiedade. E, graças a Deus, esse navio superou todas as minhas expectativas. Excelente tripulação: chefe atencioso, subchefe muito experiente e cheio de boa vontade para ensinar. Alí não foi somente a minha escola – fantástica, por sinal – mas a minha casa. Faço questão de manter contato com boa parte da tripulação, nos tornamos amigos de verdade.
Voltando ao que realmente interessa, vou explicar o que é um AHTS. Esse tipo de navio é como um reboque de plataformas. Ele pode operar, também, mantendo ela na posição correta para extrair o petróleo e retirar ou colocar as âncoras (sim, plataforma tem âncora). É um barco de força, não de velocidade.
O começo pra mim foi bem difícil e não é lenda: A praça de máquinas é realmente quente e o serviço é pesado.
Eu não sabia nada do navio, nem mesmo o básico. A comunicação era difícil porque, por mais que eu soubesse inglês, nunca estive na situação de ter que falar a língua a maior parte do tempo e meu vocabulário não era muito extenso. Mas fui seguindo linhas, questionando tudo, lendo manual… Aos poucos, fui entendendo como a praça de máquinas funcionava, qual era o serviço, meu inglês melhorou bastante e criei o “feeling” para entender quando alguma coisa estava errada, se havia algum vazamento, ruídos etc.
O maquinista, acima de tudo, tem que ser curioso e observador. Uma vez, o subchefe desse navio, um dos melhores maquinistas que eu já vi na minha vida, me disse: “Para ser um bom oficial de máquinas você não precisa de força, precisa de determinação.” Esse é um dos ensinamentos que, com certeza, levarei comigo pra sempre.
Passados três meses nesse navio, recebi um convite para navegar com ele até a África. Certamente, aceitei, seria uma experiência incrível! E foi.

Pegamos um mau tempo, que eu nunca tinha visto igual, enquanto cruzávamos o Atlântico, perdemos o sinal de internet por duas semanas (o que quase levou minha mãe a loucura!), atravessamos a linha do Equador e toda a tripulação fez uma cerimônia, muito engraçada por sinal, para parabenizar os praticantes que a cruzavam pela primeira vez.
Retiramos quatro âncoras de uma plataforma, no Congo e, então, rebocamos ela para Nigéria. Passados 4 meses e meio, finalmente, retornei ao Brasil com uma mala cheia de histórias pra contar.”
Após isso, a praticante logo embarcou no PSV ER Haugesund da, também alemã, ER Shiffahrt, gerenciada pela OSM e, após 6 semanas, concluiu seu estágio embarcado, sendo declarada uma Oficial de Máquinas. O Jornal Pelicano a parabeniza pela conquista e agradece a contribuição dada ao Diário do Pratica.
Confira abaixo a galeria de fotos que a 2OM nos enviou no seu período de praticagem: