Relatos indiscriminados de praticantes embarcados em diferentes navios estão sendo editados pelo Jornal Pelicano numa série de matérias chamada Diário do Pratica. Até agora, porém, somente publicamos relatos de praticantes do curso de náutica. O POM Salgado, embarcado há uma semana, no PSV Biguá, da Wilson Sons, é o primeiro maquinista a dar o seu relato. Ele nos conta sobre seu contato inicial com o navio, o processo de adaptação aos horários de bordo, a importância dos conhecimentos trazidos da Escola, algumas fainas que já dominou e da necessidade do inglês. 

Sejam bem-vindos a bordo!


“Eu sou o praticante de oficial de máquinas Diego Salgado e estou escrevendol para o Diário do Pratica para contar um pouco da minha experiência.”

“Estou embarcado no PSV Biguá, da empresa Wilson Sons. Ele é um navio, que opera como carga-geral fornecendo diesel, água e cargas de convés. Ele ainda conta com um sistema de Dry Bulk que pode ser utilizado quando necessário. O seu quadro de oficiais de máquinas tem, apenas, os chefe e subchefe e ambos dão serviço. Atualmente, estou tirando serviço com o chefe de máquinas, no quarto de 1200 à 0000. A tripulação é toda brasileira e todos me receberam muito bem. A convivência, aqui, em geral, é muito boa.
 

 

Logo quando você chega no navio, por maior que seja a noção do que esperar, você se sente perdido…

 
Logo quando você chega no navio, por maior que seja a noção do que esperar, você se sente perdido e isso é normal. Conforme vai conhecendo o navio essa sensação passa. Eu procurei tirar um tempo, todo dia, para conhecer um compartimento diferente ou um novo sistema. Hoje, posso dizer, que já conheço grande parte do navio, quase ele todo.
 
Outro problema que enfrentei quando cheguei foi a adaptação ao horário. Isso te deixará cansado e estressado nos primeiros dias, mas com o tempo também passará.
 
Como tinha dito, dou serviço com o chefe de máquinas e acompanho tudo o que ele faz. As fainas de manutenção e de rotina ficam a cargo do subchefe. Então, não estou pegando muito disso ainda. Fico mais com a parte de condução, mesmo, do navio e um pouco, também, da papelada. Coisa tranquila, mas que exige conhecimento!
 

Se mostrar interessado e prestativo é fundamental.

 
Sempre que aparece algo a ser feito, o chefe me chama para fazer junto. Isso quando não sou eu que o chamo. Se mostrar interessado e prestativo é fundamental. Observar também é muito importante e é aqui que entram as disciplinas ministradas na EFOMM. Você saber como as coisas funcionam te libera muito tempo e espaço para se preocupar com o que realmente é importante: aprender coisas novas.
 
O navio é diesel-elétrico, ou seja, a geração de energia se dá por geradores a diesel e, a propulsão, por motores elétricos. É um sistema novo, porém, de condução e manutenção bem simples. Claro que uma mão de obra especializada é necessária para trabalhos mas complexos, mas esses não são feitos a bordo.
 
Essa semana realizamos uma manutenção nas bombas de vácuo do sistema de esgoto sanitário. Retiramos uma delas e colocamos outra nova. Depois, a recuperamos e trocamos com a que sobrou na linha (ainda vamos recuperar essa última bomba retirada para deixá-la como sobressalente). Conhecer sobre bombas é importantíssimo, porque é o que mais há a bordo e nenhum fluido vai de um tanque para o outro ou pressuriza uma rede sem elas.
 
Hoje, fizemos a limpeza de detectores de fumaça e a sondagem de todos os tanques de óleo diesel do navio. Essa sondagem é uma rotina semanal da empresa. 
 

Fica muito mais fácil pegar as manobras quando se entende o funcionamento dos equipamentos.

 
Também tenho visto o sistema supervisório do navio. As aulas de simulador foram de extrema importância, nisso. Lógico que não é igual, mas a noção que adquiri está sendo essencial. Aliás, em relação às coisas não serem iguais… nada na vida é igual. Aqui no navio essa regra também se aplica. Muita coisa é, somente, parecida, mas com funcionamento idêntico. Fica muito mais fácil pegar as manobras quando se entende o funcionamento dos equipamentos.
 
O chefe já confia em mim para fazer o bandalho, o diário de máquinas e as manobras básicas no supervisório e no navio como manobras de lastro; esgoto do poceto das dalas; monitoramento de tanques; manobras com o purificador; gerenciamento de geradores, no barramento; manutenções básicas, como lubrificação de rolamentos; sondagens; cálculo e lançamento do consumo diário de óleo diesel; colocação dos azimutais e bow thrusters em funcionamento; procedimentos no fundeio e preparação da máquina.
 

O inglês não é usado no dia a dia… aqui… mas nem por isso deixa de ser de extrema importância.

 
O inglês não é usado no dia a dia para comunicação aqui pelo fato da tripulação ser brasileira, mas nem por isso deixa de ser de extrema importância. Todo o supervisório é em inglês, bem como os manuais e alguns documentos.
 
Para fechar vou deixar meu conselho: aproveitem a escola para APRENDER o funcionamento das coisas. Acreditem em mim, vai ser de grande valia aqui a bordo.
 
Conforme mais coisas forem acontecendo eu conto para vocês.”
 
POM Diego Salgado
 
 
 
 
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Segundo Oficial de Náutica e Membro Honorário do Jornal Pelicano e Grêmio de Vela e Remo. Foi aluno da EFOMM entre 2013 e 2015, Adaptador-aluno, Atleta da Equipe de Natação, Monitor dos Grêmios de Náutica e Informática, Escritor e Vice-presidente do Jornal Pelicano.