No dia 28 de janeiro desse ano, a presidente Dilma Roussef esteve em Cuba, no Caribe, para inaugurar a primeira fase de um dos maiores e mais controversos investimentos exteriores brasileiros: o Porto de Mariel.
Anúncio polêmico
Na época, a presidente foi fortemente criticada por determinados setores da sociedade pelo fato de quase 80% do valor total do empreendimento cubano ter sido financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enquanto diversos portos brasileiros sofrem a necessidade de investimentos semelhantes em infra-estrutura.
Além disso, levantou-se fortes dúvidas a respeito da sustentabilidade e do valor estratégico da obra alegados pelo governo, porque a Ilha enfrenta uma situação econômica precária e fortes embargos econômicos dos Estados Unidos, desde os tempos de Guerra Fria. Foi amplamente questionado, também, a simpatia política entre o Palácio do Planalto e Havana dado que esta diplomacia possui um histórico conhecido de desrespeito aos direitos humanos.
Críticas posteriores são positivas
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Passados quase 2 meses da visita, no entanto, parte importante dos críticos passaram a enxergar o movimento do governo brasileiro mais positivamente. A análise de alguns dados permitiu-lhes concluir que, de fato, o ato foi mais pragmático do que ideológico.
O crédito inicial liberado pelo BNDES foi de 682 milhôes de dólares. A primeira fase do porto custou um total de 957 milhões a Cuba e 802 milhões retornaram ao Brasil através da contratação de serviços de empresas brasileiras como a Odebrecht, que ajudou a levantar a obra. Além de ser positivo o saldo para nós, estimativas dessa empresa dão conta de que cerca de 156 mil empregos totais foram gerados por aqui, em consequência daquele investimento.
Aposta no longo prazo
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Além disso, há a forte promessa do porto se tornar um indispensável entreposto comercial da região, num futuro próximo. Estando a menos de 150 quilômetros dos Estados Unidos, próximo do novo Canal do Panamá e à altura dos terminais mais avançados caribenhos – com, inclusive, capacidade para atracação, carga e descarga dos navios post-panamax – ele coloca o pequeno e isolado país numa posição cada vez menos ignorável pela potência. O investimento faz a ilha de Cuba avançar em sua estratégia de entrada no circuito capitalista mundial.
O porto compõe a Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM) criada aos moldes das Zonas Econômicas Especiais chinesas. Ela propiciará a instalação de empresas estrangeiras focadas, basicamente, na exportação de produtos de alto valor agregado para abastecimento dos mercados norte-americano e do Caribe e pode até se tornar central, no escoamento comercial para o oriente, dado a proximidade com aquele canal.
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Tudo isso afasta boa parte das preocupações levantadas sobre o investimento brasileiro naquele país. A consideração dessa conjuntura apresentada sem o prejuízo dos julgamentos político-ideológicos, na verdade, faz da decisão do governo um pragmatismo econômico-estratégico bastante acertado.