Quando Edward Lloyd chegou a Londres em 1680, a cidade girava basicamente em torno de duas coisas: dinheiro e navios. Ambos eram encontrados em uma parte específica da capital inglesa, nas proximidades do escritório da Marinha em Seething Lane. Cada coffee house daquela região possuía uma clientela específica, e foi em Tower Street que Lloyd abriu seu próprio bar, reunindo aqueles que se preocupavam com a atividade naval, o que fez com que o lugar se tornasse o ponto de encontro preferido de capitães de navios, armadores e mercantes em geral.

Na época, não havia empresas seguradoras como as que existem hoje, sendo os chamados underwriters aqueles que faziam um papel similar, assinando seu nome sob o texto das apólices que garantiam os riscos de empreendimentos comerciais. Para manter sua credibilidade e servir de referência ao mercado, essas pessoas mantinham um registro com os dados dos navios que seguravam. Aproveitando-se dessa clientela e das informações que circulavam em seu bar através das discussões entre os homens do mar, Lloyd criou uma espécie de livro de registro, ou “a list of ships”, relacionando as embarcações que atendiam às características de construção que eram consideradas boas, por consenso dos frequentadores. Essas características muitas vezes eram avaliadas empiricamente, pela simples observação das falhas ocorridas em navios e disposições que pudessem ser feitas em contrário para evitá-las.

Pintura mostra reunião em bares próximos a portos ingleses no século XVIII. (Imagem: Google Imagens)

O transporte marítimo naquele tempo consistia em um empreendimento ainda muito arriscado, de modo que eram grandes as chances de a carga não chegar a seu destino. Por esse motivo, o “Livro de Registro do Lloyd” passou a ser interessante aos afretadores por ser a primeira referência sobre a confiabilidade dos navios. Nascia assim a Sociedade Classificadora mais antiga do mundo, não por acaso denominada Lloyd’s Register of Shipping.

Pintura de embarcação inglesa no século XVI. (Imagem: Google Imagens)

Com o tempo, essa prática de confiabilidade se espalhou pelo mundo e aprimorou-se, até chegar às Classificadoras tal como hoje conhecemos. Essas empresas utilizam-se da engenharia, ciência e estatística para respaldar a construção de embarcações através de regras predeterminadas, buscando estabelecer padrões de qualidade que garantam a segurança dos navios e otimizem sua operação.

A observação das “boas características” difundida no Lloyd’s é algo tão antigo quanto o próprio transporte marítimo. A escolha de um padrão de navio semelhante para erguer uma nova embarcação é um modelo tradicional de construção, sendo essa, inclusive, uma das fases de projeto. Características que se demonstram vantajosas são, portanto, fundamentais para o sucesso de um navio.

Assim, certamente o legado de Lloyd estará presente enquanto a Marinha Mercante tornar-se mais promissora.

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Segundo Oficial de Máquinas e Membra Honorária do Jornal Pelicano. Foi aluna da EFOMM de 2013 a 2015, Comandante de Companhia, Adaptadora-aluna, Atleta da Equipe de Basquete, Monitora do Grêmio de Máquinas, Escritora e Presidente do Jornal Pelicano.