Bravura e tenacidade são características facilmente associadas à figura do homem do mar. Porém, poucos conhecem os fatos que fazem com que a corajosa profissão marinheira seja também uma das mais misteriosas, cercada por inúmeras superstições, mitos, lendas e crenças bem peculiares. Muitas são antigas tradições, heranças da história. Outras nasceram de eventos que navegante algum foi capaz de explicar.

Esqueça os coletes salva-vidas, baleeiras, sinalizadores e radares. Na lista abaixo, você vai encontrar coisas nem um pouco parecidas com os itens de segurança obrigatórios a bordo, mas que, por séculos, têm sido “indispensáveis” aos marinheiros que enfrentam o desconhecido, além de conhecer mitos e lendas que cercam o imaginário do marítimo.

Entenda agora por que os sete mares são muito mais profundos do que parecem.

1. Navio seguro é navio batizado…

A tradição de batizar um navio é tão antiga quanto os próprios navios. Sabe-se que egípcios, romanos e gregos já faziam cerimônias a fim de pedir aos deuses proteção para homens que se lançariam ao mar, mas por volta de 1800 os batizados começaram a seguir um certo padrão. Era derramado contra a proa da embarcação uma espécie de “fluido batismal”, que poderia ser qualquer líquido com alguma relevância ou significação, não apenas os tradicionais champanhe e vinho. Existem relatos de navios de guerra da Marinha dos EUA sendo batizados com água de importantes rios americanos no século 19.

As cerimônias tornaram-se eventos públicos capazes de reunir multidões. Champanhe e os melhores vinhos passaram a ser comumente usados. A tradição que se desenvolveu preconizava que uma mulher deveria fazer as honras e ser nomeada “benfeitora” do navio em questão.

Uma superstição marinheira é que, se um navio não fosse corretamente batizado, seria considerado azarado. Por exemplo, se a garrafa de champanhe não quebrasse contra o casco…

2. …uma vez só!

Nunca se deve rebatizar um navio, é azar na certa. Ou seja, batismo bom é batismo feito do jeito certo, com garrafa quebrada e uma única vez.

3. Sexta não!

A “sexta-feira 13” não é exatamente uma superstição náutica, porém os marítimos acreditam que a sexta, em particular, é um dia de má sorte. Muitos marinheiros recusavam-se a embarcar nesse dia da semana. Assim, conta a lenda que, na intenção de suprimir a superstição, a Marinha Britânica comissionou um tal navio H.M.S. Friday, no século 18. A tripulação foi selecionada em uma sexta-feira, o navio foi lançado em uma sexta e até o capitão, James Friday, foi escolhido especialmente para o fatídico dia. Em uma manhã de (sim, você adivinhou) sexta-feira, o navio partiu em sua primeira viagem.

E desapareceu para sempre.

4. Todos os ratos a bordo

Ratos não são os animais mais desejáveis de se ter por perto, certo? Errado. A última coisa que os marinheiros gostariam é que todos os ratos do navio subitamente fossem embora. A debandada de roedores da embarcação é encarada como um mau presságio, alerta de um infortúnio que está por vir.

5. Uma moedinha, por favor

Todos os navios devem ter uma moeda de prata embaixo do mastro, pois acredita-se que isso traga boa sorte. As explicações são muitas, mas a tradição parece ter começado com os romanos. Diz-se que a moeda era uma forma de “pedágio” cobrada pelo deus Cáron, incumbido de levar as almas dos mortos em sua barca na travessia do rio Aqueronte. Caso um desastre acontecesse ao navio, a pratinha serviria como o pagamento de todos os marinheiros, que passariam seguramente para o lado de lá.

6. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado

A bordo de uma embarcação, há uma palavra proibida. Jamais se deve dizer COELHO em um navio, pois acredita-se que o bicho traga muito azar. A explicação vem da experiência, pois o animal tinha o péssimo hábito de roer o casco na época em que as embarcações eram feitas de madeira, por isso passaram a ser terminantemente proibidos a bordo.

7. Cuidado com o que você deseja

Das muitas coisas que se deve desejar a alguém que esteja a bordo de uma embarcação, “boa sorte” não é uma opção. Os marítimos acreditam que dizer “boa sorte” a alguém que esteja dentro de um navio é, contraditoriamente, sinal de azar. Em inglês, costuma-se dizer “break a leg” para alguém que irá navegar – no mar nada acontece como queremos, então se desejarem que você “quebre uma perna” certamente tudo vai correr bem.

8. Assobiar ou não assobiar?

O assobio é um ato relativizado na superstição marinheira, e depende das condições do tempo. Se o navio está passando por uma calmaria, assobiar ajuda a trazer ventos, ou seja, é recomendável. Mas se já está ventando, um assobio desavisado pode convocar uma tempestade, por isso precisa ser evitado.

9. Plantas e flores… em terra firme

Não aceitar plantas e flores a bordo de um navio também é uma das superstições marinheiras. A razão dessa crença vem da lógica – plantas consomem água doce, o bem mais precioso que se tem em uma embarcação.

10. A fauna nada amigável dos mares

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O kraken (Imagem: Kraken Rum)

Algumas criaturas marinhas tornaram-se temidas pelos antigos marinheiros. A mais famosa delas talvez seja o Kraken, uma espécie de lula gigante que remonta do folclore nórdico. Esse ameaçador habitante dos mares da Noruega, que poderia migrar por todo o Atlântico Norte, era do tamanho de uma ilha e contava cem braços. A parte boa da história: o Kraken só destruía navios piratas e aqueles que poluíam o mar.

O imaginário dos marinheiros também era aterrorizado por uma outra criatura gigantesca – a serpente marinha. O monstro era capaz de atacar navios em alto mar e devorar todos os seus tripulantes. A serpente é descrita com uma cabeça de cavalo sem orelha, de cores verde e vermelha e repleta de mariscos agarrados à pele. Ela dá o ar de sua graça em textos antigos e histórias como A Odisseia.

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Segundo Oficial de Máquinas e Membra Honorária do Jornal Pelicano. Foi aluna da EFOMM de 2013 a 2015, Comandante de Companhia, Adaptadora-aluna, Atleta da Equipe de Basquete, Monitora do Grêmio de Máquinas, Escritora e Presidente do Jornal Pelicano.

3 COMENTÁRIOS

  1. Na Marinha do Brasil, uma das crenças mais fortes é contra o temido instrumento baiano: o Berimbau. É praticamente proibido trazê-lo a bordo.
    Uma outra forma interessante de “chamar mais vento”, além do citado assobio, é através de xingamentos diretos direcionados ao Rei dos mares. Mas cuidado pra não exagerar na dose é acabar recebendo mais vento do que pode aguentar!
    É também considerado mau agouro a bordo de pequenos veleiros, o aduchamento de cabos no padrão “pandeiro”. Isso vem provavelmente do fato de que essas aduchas marcam os conveses onde são depositados e ainda facilitam as “cocas”. Por isso cabo bom é cabo aduchado e suspenso!

      • Dizem que traz mal agouro ao navio… Pode ser tempestade, acidente a bordo, enfim, qualquer coisa que possa acontecer de errado com a viagem, vai acontecer se tiver um berimbau a bordo. Tudo superstição, claro! Ou não…

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